Não pule do barco!
A única virtude capaz de fazer você chegar ao fim é a perseverança. Como anda a sua?
Fim de ano é um período em que fico sempre mais sensível. Por natureza, sou a pessoa dos rituais. Faço para tudo. Acordar. Dormir. Começar a trabalhar. Encerrar ciclos. E o que não é dezembro senão a proximidade do fim de “mais um ciclo”.
Há quem diga que 31 de dezembro não passa de mais um dia do ano, em que o consecutivo é o dia primeiro. Não concordo. Acho que existe uma “magia” nesse mês tão especial e que faz com que muitas de nós acabem fazendo uma retrospectiva do ano que passou e renovando esperanças para o próximo que virá.
E no fim desse 2022, a minha reflexão tem sido: “Quantas vezes eu pulei do barco?".
-”Como assim, Debs. Não entendi!”
Eu explico. Pular do barco é desistir antes de chegar ao destino.
O que mais ouvimos no mundo hoje é: “Quanto mais determinada você for, mais você atinge seus objetivos”, certo? Confesso que, tenho um ranço desse discurso, mas ele não é de todo errado.
Sabe aquele ditado famoso de “vó” que diz que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”? Pois é. Ele é real e essa água batendo incessantemente, determina que rumo nosso futuro vai tomar. Isso é fato.
Você pode ter todas as skills do mundo: empatia, alegria, entusiasmo, honestidade, mas se faltar perseverança, você não chega ao fim de coisa alguma.
E acho que você deve estar se perguntando “como assim, a rainha do dizer não à procrastinação se pergunta quantas vezes pulou do barco???”. Sim. Eu também sofro disso, imperfeitinha, assim como vocês!
Eu amava uma história que D. Neusa, minha professora de Português da oitava série, nos contava sobre Thomas Edison. Ela sentava na ponta da mesa, na frente do quadro negro e dizia:
-”Vocês têm que guardar pra sempre a história de Thomas Edison. Ele fracassou setecentas vezes antes de criar a lâmpada. Quando seus auxiliares o questionavam se ainda valia a pena, ele dizia: ‘Estão doidos! Claro que sim! Nós já avançamos setecentos passos em direção ao resultado que queremos! Não vamos desistir na reta final!’. São setecentas coisas que não deram certo! Olhem quantas referências do que não fazer nós temos!”.
É um jeito diferente de pensar, não é mesmo? A maioria das pessoas que conheço, não teria chegado nem na centésima tentativa. A maioria teria… Pulado do barco. Inclusive eu.
E aí vem a minha reflexão: o que nos faz pular do barco antes de chegarmos “em terra firme”? Por que pulamos no mar e preferimos, ou morrer afogados ou nadar até a exaustão, sendo que poderíamos chegar de barco?
Sempre que penso nisso vou até a minha Bíblia e leio uma das passagens que mais amo: Mateus 8, quando Jesus acalma a tempestade.
23 Depois entrou no barco e começou a atravessar o lago com os discípulos. 24 De repente, levantou-se uma tempestade tão grande no mar que as ondas cobriam o barco. Mas Jesus dormia. 25 Os discípulos foram acordá-lo, gritando: “Senhor, salva-nos, que estamos quase a morrer!”
26 Ele disse-lhes: “Homens de pouca fé, porque estavam com medo?” E levantando-se repreendeu o vento e o mar e fez-se uma grande calma. 27 Os discípulos ficaram admirados e perguntavam: “Que homem é este, a quem os próprios ventos e o mar obedecem?”
Às vezes, estamos tão focados no tamanho do que nos assusta que esquecemos QUEM está no barco conosco. E sim, estou falando Dele: Deus.
Hoje no Culto, ouvi uma frase que pegou no fundo do meu coração: “Deus tem competência para cuidar daquilo que você não consegue cuidar na sua vida”.
Quando estamos no barco, o mar nem sempre é calmo. Tem tempestade, tem que tirar água, tem que reajustar a rota. São as setecentas vezes que Edison fracassou. Mas ele permaneceu no barco ainda que estivesse quase virando. Mas é como se ele estivesse ouvindo uma voz dizendo;
-”Aguente firme, não pare até segunda ordem!”.
É muito desafiador estar no MEIO da tempestade ou no “olho do furacão”. É difícil estar caminhando no meio do deserto sem ver um oásis, estar no meio de uma chuva sem nenhum lugar para se abrigar ou no meio de processos da vida para os quais não vemos uma linha de chegada.
Quando você está no início ou no fim, tudo parece mais fácil. No início, você vê o céu cinza, ouve trovões. No fim, somos capazes de enxergar que tudo está indo embora. Mas e no meio? Difícil demais! Não sabemos quanto tempo tudo vai durar ou quanto de estoque de perseverança teremos que usar para que não fiquemos balançando pra lá e pra cá feito prego na areia.
E é justamente no momento que não deveríamos pular do barco, que o fazemos: quando a tempestade parece que está tão forte que temos a sensação física de que não vamos aguentar.
Mas sabe de uma coisa: sempre que o “homi lá de cima” nos dá uma missão, qualquer que seja ela, antes, ele nos dá o que precisamos para completá-la. E Ele nos dá também a direção, assim como fez na tempestade com seus companheiros de barco, quando ele diz: “Entrem no barco e vão adiante para o outro lado!”.
A grande questão é que sempre pensamos que não conseguimos dar conta. Não damos conta de sofrer, nem de desilusões com pessoas queridas. Não suportamos um fracasso, uma demissão, ficar sem dinheiro. Mas… e o quanto suportamos a felicidade, o amor, as bençãos, sem pensar em parar porque “está tudo muito bom” ou “já cheguei onde queria”?
Se o cansaço faz com que pulemos do barco; então descanse. Se a falta de paciência com os processos faz com que pulemos do barco; então, grude no seu porquê. Se a falta de habilidade em lidar com nosso ego faz com que pulemos do barco; então, coloque as coisas nos seus devidos lugares, inclusive e principalmente, seu ego.
Se a falta de flexibilidade para alterar a rota faz com que pulemos do barco; então entenda que existem vários caminhos para chegar do outro lado da margem. Se a falta de presença faz com que pulemos do barco; então pare de pensar no que ainda não foi e foque no que está se apresentando na sua vida - ainda que seja a tempestade.
Achar que já chegamos lá faz com que pulemos do barco também - até o que parece bom, nos faz desistir; então preste atenção aos marcos que indicam se você realmente chegou!
A comparação com a “coleguinha” ao lado faz com que pulemos do nosso barco para entrarmos no barco alheio; então, olhe para o seu “mar”! Onde você coloca a sua energia, flui, lembre-se disso!
Falar demais e fazer de menos nos tira do barco, simplesmente porque os mesmos recursos cerebrais que usamos para falar, usamos para fazer. A conta não fecha.
Você só é capaz de saber de onde tirar a água do barco para que ele não afunde, quando está 100% presente no momento. Quando você é capaz de enxergar, escutar, sentir e interagir.
Esse ano pulei de muitos barcos. E quando olho para trás, percebo que estava quaaaase lá. É muito ruim você ver que não chegou do outro lado da margem por falta de presença para escutar que ainda não era hora de sair do barco!
Precisamos parar de desistir no meio do caminho. Talvez seja preciso remendar o barco setecentas vezes - como fez Thomas Edison com a invenção da lâmpada - antes de chegarmos ao destino.
Lembre-se que se você pula do barco, na maioria das vezes é impossível voltar! Então, se eu pudesse dar um conselho para o seu ano que já está batendo à porta seria: não pule do barco! A chance de recomeçar só acontece depois da decisão de permanecer nele!
Faça uma boa semana!
Com carinho,
Debs
Amiga, passei 2022 pulando de tudo que é barco. Tenho certeza que estou 99% errada em fazer isto, mas tanto trampolim foi consequência de muitos cruzeiros que não eram pra mim nos últimos anos. Tenho também visto muita gente "chegando lá" (onde eu supostamente deveria/queria chegar) com o mental/emocional em frangalhos, então de todas as lições que 2022 me trouxe a que mais fica é que pular e nadar pra trás tem seu valor também! Existe - na minha humilde visão - um subestimado sucesso no desistir!
Oi Debs, tudo bem? Mas e como diferenciar perseverança de teimosia? Entendo que desistir durante as tempestades nos priva de viver algo que estava "logo ali". Mas e quando não aceitamos algo e insistimos nisso mais do que deveríamos... como ver as diferenças?